Marisa Wanzeller, da Agência iNFRA
A região Sul do país possui o maior potencial técnico para geração eólica offshore, de 660 GW de capacidade instalada, dentre as macrorregiões identificadas na Zona Econômica Exclusiva do Brasil. Logo atrás aparece o Nordeste, com potencial de 356 GW, seguido pelo Sudeste, com 340 GW.
É o que diz o estudo realizado pelo grupo Banco Mundial, em parceria com o MME (Ministério de Minas e Energia) e a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a pedido da pasta.
Segundo o levantamento, a região Sul é a que tem a maior extensão de leito marinho, com boas velocidades de vento em águas rasas e próximas aos principais centros de demanda industrial. Apesar de todo potencial, a maior parte da região está localizada em uma “área marinha ecológica ou biologicamente significativa”.
Desafios
Isso pode significar um desafio para o país, caso queira alavancar os investimentos na região. Rebeca Doctors e Sean Whittaker, especialistas em energia renovável no Banco Mundial, avaliam que é de extrema importância que o governo considere os impactos ambientais e sociais “logo no início”, ao designar as zonas de desenvolvimento eólico offshore no país.
“Isso significa utilizar um Plano Espacial Marinho, como o que está sendo financiado atualmente no Sul, pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], ou um mapeamento de sensibilidade à biodiversidade para identificar as áreas de menor risco”, disseram. Segundo os especialistas, essa abordagem funcionou bem nos mercados já desenvolvidos, como forma de evitar confrontos com órgãos ambientais.
Já no Nordeste, segunda região mapeada com maior potencial, “há importantes áreas de pesca artesanal e comercial”, bem como atividades turísticas, o que também exigiria uma consideração cuidadosa quanto às “sensibilidades sociais”, diz o estudo.
Por fim, o Sudeste se destaca pelas atividades de óleo e gás em águas profundas. Se por um lado isso pode ser uma oportunidade para a eólica offshore, com a utilização de infraestrutura já existente, pode ser um desafio a coexistência com plataformas, destaca o Banco Mundial. Além disso, será necessário planejamento para evitar prejuízo às rotas marítimas, visto que há um tráfego marítimo intenso na região.
Escoamento
O estudo destaca positivamente o fato dos recursos eólicos offshore mais favoráveis se agruparem em torno de grandes centros populacionais, como as capitais Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE) e Porto Alegre (RS). Isso pode reduzir perdas na transmissão “desde que seja mantido um equilíbrio regional adequado entre a oferta e a demanda”.
“Vale notar que volumes mais altos de energia eólica offshore podem levar a congestionamentos em nível local se a demanda não for suficientemente elevada ou se a capacidade de evacuação for insuficiente”, diz o documento.
Para mitigar a situação, pode-se pensar em investimentos em transmissão, em capacidade de armazenamento ou aumento da demanda, como a produção de hidrogênio de baixo carbono.