11/07/2025 | 08h00  •  Atualização: 11/07/2025 | 16h29

Taxação americana de 50% sobre petróleo brasileiro terá efeitos limitados se confirmada, dizem executivos

Foto: Ministério de Minas e Energia

Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA

Embora as exportações de petróleo do Brasil para os Estados Unidos não sejam nada desprezíveis, executivos do setor ouvidos pela Agência iNFRA minimizam amplamente seus efeitos sobre a indústria de óleo e gás do país.

Caso o produto não seja excepcionado do tarifaço, como já aconteceu em abril, essas fontes admitem alguma perturbação no curto prazo, mas seguida de rápido rearranjo na destinação das cargas para outras regiões do mundo, sobretudo Ásia, e também Europa. Os impactos sobre o resultado financeiro das petroleiras seria, portanto, “pequeno ou inexistente”, afirmam.

As exportações de petróleo brasileiro para os EUA representaram 11,3% do envio total do gênero ao exterior no primeiro semestre deste ano e 13,4% em todo 2024, segundo o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). No ano passado, a receita total obtida com a venda de petróleo ao exterior foi de US$ 56,6 bilhões, dos quais US$ 7,6 bilhões vieram da corrente com os EUA.

“Se houver impactos para a indústria [de óleo e gás], devem ser limitados”, explicou Décio Oddone, presidente da Brava e ex-diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), à Agência iNFRA.

Oddone reiterou a tese de que cargas eventualmente rechaçadas por compradores americanos em função do sobrepreço devem ser absorvidas por outros mercados, principalmente na Ásia. Com relação à Brava, que exporta a maior parte de sua produção, Oddone lembrou que a petroleira “não tem tradição de exportar para os EUA”. A maior parte da produção da Brava tem Singapura como destino. 

O mesmo tende a acontecer com as demais petroleiras independentes e as grandes do setor, chamadas “majors”, mesmo que tenham nos EUA sua principal clientela, afirma o presidente do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás), Roberto Ardenghy. Em relatório a investidores, o Bradesco BBI afirma que a empresa mais exposta seria a Prio, por ter algo em torno de 13% das receitas provenientes de exportações aos EUA. Ainda assim, fontes de mercado afirmam que o dano potencial para a Prio é reduzido.

Ardenghy reconhece que houve uma escalada no assunto, com o salto da tarifa então suspensa de 10% para 50%, mas garante que o mercado de petróleo tem demanda crescente e segura, e, mais do que isso, o produto brasileiro tem vantagens competitivas em função de características físicas e químicas.

“Se isso se confirmar [tarifa de 50%], o petróleo brasileiro vai encontrar outros compradores na Ásia e na Europa. Isso se reorganiza rapidamente. O petróleo brasileiro é apreciado por ser mais ‘low carbon’ e ter menos contaminantes que a média. É um petróleo médio-leve [entre o leve e o médio em termos de densidade e composição], com boa aceitação em refinarias. Se fosse pesado, como o venezuelano, seria outra história, porque nem toda refinaria está adaptada”, diz o presidente do IBP.

O presidente do IBP lembra que o petróleo brasileiro já tem entrada consolidada na Ásia, sobretudo China, destino de 36% do petróleo brasileiro exportado no primeiro semestre. Nos últimos anos, a pauta também viu aumentar os envios de petróleo para a Europa, sobretudo Espanha e Holanda, em um movimento de substituição do óleo bruto russo que alimentava esses mercados e agora é vetado devido à guerra na Ucrânia. 

Conforme dados do MDIC, em 2024, a China liderou as compras de petróleo brasileiro, absorvendo 36,3% do total, seguida dos EUA (13,4%), Singapura (9,4%), Espanha (8,9%), Holanda (6%), Portugal (4,4%) e Chile (3,5%).

“Antigamente só 4% do total do óleo exportado do Brasil ia para a Europa e hoje esse porcentual já está em torno de 14% e subindo. Ocupamos o lugar da Rússia, que com as sanções [relacionadas à guerra], tiveram de transferir suas cargas para a China. Esse mercado é assim”, continua, ao sugerir trivialidade na reorganização dos fluxos da commodity.

Os analistas do Banco BTG Luiz Carvalho e Gustavo Cunha endossam essa leitura em relatório enviado a investidores na quarta-feira (9). “A imposição dessas tarifas pode gerar ruído de curto prazo nos fluxos comerciais e impactar as margens nos contratos à vista, mas não representa um risco estrutural para o escoamento da produção brasileira. O Brasil possui flexibilidade logística e comercial para preservar a competitividade de seus barris no mercado global”, anotam no documento.

Nova exceção é possível
Segundo Ardenghy, no entanto, há uma chance razoável de o petróleo ser novamente excepcionado da tarifa anunciada, o que deve ficar claro até o fim do mês. A tarifa de 50% sobre importações americanas do Brasil só passa a valer em 1° de agosto. 

Segundo Ardenghy, embora a decisão do governo Donald Trump apoie-se em questões políticas, especialmente no caso do petróleo, faz pouco sentido do ponto de vista econômico. Ardenghy lembra que a demanda americana por petróleo é “inelástica”, ou seja, não tem alternativa imediata, o que faz com que esse tipo de perturbação prejudique também as refinarias locais, que terão de buscar cargas idênticas com novos fornecedores. 

“Eles têm refinarias que importam 200 mil barris de petróleo por dia do Brasil e terão de buscar produto em outro lugar, possivelmente mais caro e repassando o aumento no preço final ao consumidor”, diz Ardenghy. 

Esse racional – tratar-se de um país deficitário em petróleo – explicaria porque o governo americano retirou o produto da lista de incidência da tarifa média de 10% anunciada em abril. Essas exceções foram estabelecidas por um decreto executivo de 2 de abril, sendo válidas para seis “categorias universais”, entre as quais estariam insumos de energia, minerais críticos, semicondutores, entre outros produtos estratégicos para o Brasil. Se o decreto permanecer válido, o setor estaria isento. 

Ao todo, os EUA importam pouco mais de 6 milhões de barris de petróleo por dia de várias partes do mundo. Segundo a analista de Inteligência de Mercado da consultoria StoneX, Isabela Garcia, informou em nota, 65% dessas importações provêm do Canadá, 7% do México e 4% da Arábia Saudita, sendo apenas cerca de 3% advindas do Brasil. Outros mercados acessados pelos EUA hoje são Venezuela e Guiana, este último com bom potencial de aumento no fornecimento. 

Petrobras
Uma das principais exportadoras de petróleo do país, a Petrobras engrossa a lista das pouco ou nada afetadas por refinar a maior parte de sua produção e ser pouco exposta ao mercado americano, com exportações pulverizadas, ainda que com forte participação da China. 

“Acreditamos que a PBR [Petrobras] não deve ser materialmente impactada pelas tarifas. Utilizando dados do primeiro trimestre de 2025, apenas 4% de suas exportações de petróleo foram destinadas aos EUA”, escrevem os analistas do BTG. Essa participação americana nas exportações de petróleo da estatal tinha sido de 9% nos três meses imediatamente anteriores.

No primeiro trimestre, à frente dos EUA nas vendas da Petrobras estavam China, com 36%, Europa, com 27%, e “Ásia à exceção de China”, com 33%, o que inclui Singapura, Coreia e Índia. 

No início do ano, em evento na Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), o diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, Claudio Schlosser, comentou a estratégia comercial da empresa, que passa por ampliar a base de clientes no exterior para estimular competição entre eles e maximizar as margens. Segundo o executivo, a cesta de clientes tem renovado algo em torno de 19 compradores por ano.

Tags: