“Tínhamos o direito de ir embora investir em outro país, mas queremos continuar no Brasil”, diz CEO da EDP

Marisa Wanzeller, da Agência iNFRA

 A EDP Brasil pretende continuar investindo no país e “quer acreditar que o Brasil continua com a capacidade de atrair capital para o setor de distribuição”. A afirmação é do CEO da empresa, João Marques da Cruz, em entrevista à Agência iNFRA.

O executivo destacou que “o capital muda de um país para outro com imensa facilidade”: “Em vez de dizer que queremos continuar a investir no Brasil, nós tínhamos o direito de pedir à União ‘dê-nos o dinheiro que nós vamos embora, dê-nos o dinheiro e nós investimos no Vietnã, ou em outro país qualquer’, mas nós não queremos isso, nós queremos continuar a investir no Brasil, especificamente no Espírito Santo”.

A EDP Brasil tem duas distribuidoras de energia elétrica com contratos vincendos nos próximos anos, sendo a concessionária do Espírito Santo a primeira de todas as 20 a renovar o seu contrato de concessão, em 2025. Já no estado de São Paulo, a outorga da companhia vence em 2028. 

João Marques da Cruz também comentou sobre a resposta da distribuidora aos eventos climáticos que interromperam o serviço em São Paulo, tanto em fevereiro deste ano quanto na última sexta-feira (3). Segundo o executivo, a companhia seguirá prestando todas as informações necessárias às autoridades brasileiras. 

“Em eletricidade não há milagres, se não há investimento, se não há capacitação de pessoas, as redes não são resilientes e não se consegue responder aos eventos que acontecem”, afirmou o executivo. Leia abaixo os principais pontos da entrevista.

Agência iNFRA – Quais as expectativas da EDP com relação à renovação dos contratos de concessão, o que a EDP está esperando? 
João Marques da Cruz – A nossa expectativa é positiva, eu diria muito positiva, e quero parabenizar o trabalho realizado até agora, quer pelo Ministério de Minas e Energia, quer pelo Tribunal de Contas da União, que é um trabalho muito positivo. Houve uma consulta pública equilibrada, várias entidades participaram, deram os seus contributos. E o modelo que está em cima da mesa é um modelo que nós concordamos. 

Qual o diferencial desse modelo? Por que a EDP concorda?
Em primeiro lugar, é um modelo centrado nos clientes, nós temos que encontrar a melhor solução para os clientes. E essa solução, permite atrair capital. O setor de distribuição carece de capital, porque só com investimento em tecnologia e equipamentos, na resiliência da rede, e investimento em pessoas, é que nós conseguimos mitigar os eventos climáticos extremos.

Em eletricidade não há milagres. Pode ser que haja em outros setores, mas em eletricidade não há, e, se não há investimento, se não há capacitação de pessoas, as redes não são resilientes e não se consegue responder aos eventos que acontecem. 

O senhor se refere ao temporal que levou a um apagão no estado de São Paulo na última sexta-feira, 3 de novembro? 
Não falo do evento de sexta-feira, este de São Paulo. Porque nós sentimos em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, em fevereiro, quando morreram dezenas de pessoas em um temporal muito grande e a rede ficou afetada, e nós mobilizamos todos os recursos e conseguimos resolver isso, por isso que é preciso investimento.

Logo, submissões de bônus de outorga, de onerosidade, não ajudam o investimento, não atraem investimento.

Nós não podemos esquecer que o Brasil está em competição com todos os países do mundo por um recurso muito importante, que é o capital. O capital muda de um país para outro com imensa facilidade, e eu quero acreditar que o Brasil continua com a capacidade de atrair capital para o setor da distribuição, que  precisa desse capital para se tornar resiliente.

Por isso, quem defende bônus de outorga, quem defende onerosidade [na renovação das concessões], está prejudicando os clientes, porque não está criando as condições de atração do capital que vai propiciar a qualidade de serviço para os clientes.

E quanto à participação que o Congresso Nacional requer nesse processo? O senhor acredita que essa participação vai atrasar o processo de renovação das outorgas?
Eu não posso ter nenhuma crítica negativa ao processo que está a ser bem conduzido por parte do ministro [Alexandre Silveira] e do Ministério de Minas e Energia, e pelo Tribunal de Contas da União, mas também entendemos que o contributo da Câmara foi um contributo positivo, e nós estamos disponíveis para dar todos os esclarecimentos. 

Nossa renovação deve acontecer dentro de poucas semanas. Mas nós estamos disponíveis para dar os nossos contributos a todas as autoridades brasileiras, com todo o respeito pela Câmara, pelo Congresso. Na verdade, os representantes eleitos pelos brasileiros merecem todo o respeito e por isso nós contribuímos em todos os lugares que forem entendidos, mas, até agora, o processo tem sido bem conduzido pelo Ministério de Minas Energia.

A concessão da EDP Espírito Santo vence em breve, em 2025, e vocês já pediram a renovação…
Sim, e nós tínhamos um direito de, em vez de dizer que queremos continuar a investir no Brasil, nós tínhamos o direito de pedir à União, “dê-nos o dinheiro que nós vamos embora, dê-nos o dinheiro e nós investimos no Vietnã, ou em outro país qualquer”, mas nós não queremos isso, nós queremos continuar a investir no Brasil, especificamente no Espírito Santo.

Sobre os eventos climáticos, as concessionárias que atuam no estado de São Paulo estão sendo fiscalizadas pela ANEEL [Agência Nacional de Energia Elétrica] por conta do apagão que começou no dia 3 e se estende até agora. Como está essa situação?
Nós somos fiscalizados continuamente pelo regulador, não está relacionado apenas com este evento. Nós precisamos, e isso é verdade, de um regulador forte. Eu costumo elogiar a regulação brasileira quando estou fora do Brasil – como sabem, eu sou português – falo sobre esse assunto várias vezes fora do Brasil e elogio o quadro regulatório brasileiro no setor da energia. 

Mas a nossa resposta a esse evento em específico, eu não quero fazer comparações com outras empresas, porque não me cabe fazer isso, mas nós tivemos uma resposta pronta, quer em fevereiro, quer agora. Isso francamente é reconhecido pelas autoridades, nomeadamente pelo governador Tarcísio de Freitas. Governador que teve um posicionamento muito correto, que reconhece o bom trabalho que temos realizado. E nós contribuímos com todas as análises que o regulador entenda fazer.

E qual foi o tempo de restabelecimento do serviço nas áreas onde a EDP atua?
Passadas 24 horas, tínhamos já um nível muito mais baixo [de ocorrências]. Passadas 48 horas, já mais de 95% das ocorrências estavam tratadas, e, passadas 72 horas, estava tudo resolvido.

Para finalizar, gostaria de saber se a EDP vai participar do leilão de transmissão a ser realizado em dezembro deste ano? 
Não vamos. Analisamos e não vamos ao leilão de dezembro, mas vamos ao leilão de março de 2024.

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