Dimmi Amora, da Agência iNFRA
Estudo do Ministério da Infraestrutura sobre a logística de distribuição de combustíveis apontou que o biodiesel, o etanol e o QAV têm uma alta dependência do transporte rodoviário para serem entregues aos consumidores, com até 88% do que é transportado desses produtos sendo levados em caminhões.
O trabalho “Corredores Logísticos Estratégicos” mostra ainda que, para a gasolina e o diesel, a dependência do rodoviário é menor. Na média, 38% desses dois produtos andam em caminhões, enquanto 32% transitam em ferrovias, 22% em navios de cabotagem e 8% por dutos.
O trabalho sobre combustíveis é parte dos estudos que estão sendo feitos desde 2016 pelo governo federal numa tentativa de estruturar o transporte do país por meio de corredores de cargas. O trabalho com combustíveis foi o sexto volume de uma série que já analisou outras cadeias como soja e milho, minério e automotores.
A secretária nacional de Fomento, Planejamento e Parcerias do Ministério da Infraestrutura, Natália Marcassa, afirmou que o estudo da cadeia de combustíveis tem o objetivo de identificar as necessidades de investimentos para o setor, mas também uma função especial: garantir o fornecimento desse produto em todo o país.
Greve dos caminhoneiros
Marcassa afirmou que a greve dos caminhoneiros de 2018 – em que o corte do fornecimento de combustíveis praticamente paralisou o país – mostrou a necessidade de se identificar os caminhos por onde passam as cargas, como forma de ter opções para se levar o produto em casos de interrupção, por qualquer motivo.
“No trabalho a gente consegue ver como o transportador usa as rotas de cada combustível. Num caso de impedimento qualquer, podemos ver se uma região vai ficar sem combustível e traçar alternativa para não deixar isso acontecer”, afirmou a secretária.
Na greve dos caminhoneiros, por exemplo, um dos primeiros locais a ficar sem combustível foi o Aeroporto de Brasília (DF), que na época era um dos principais centros de redistribuição de passageiros do país. Isso ocorreu porque todo o Centro-Oeste do país é abastecido de QAV por caminhões, como identificado no trabalho, num corredor cujo produto sai das refinarias do Sudeste.
No caso do combustível de aviação, apenas 2% andam em dutos e 19% por cabotagem, num corredor entre o Nordeste e o Sudeste do país. Não há transporte por ferrovia do produto. Para o etanol, por exemplo, a participação da ferrovia é um pouco mais relevante, com 14%, mas a cabotagem é muito baixa, com apenas 3%.
Gargalos em análise
A alta dependência do modal rodoviário no transporte de alguns tipos de combustíveis, segundo Marcassa, será agora tema de análise das etapas seguintes do trabalho de planejamento de longo prazo que o governo está elaborando para o setor.
A secretária afirma que o PNLI (Plano Nacional de Logística Integrada) – que dará as diretrizes do planejamento de transportes nos próximos 15 a 30 anos – está estudando o país no modelo de corredores. O PNLI está previsto para ficar pronto no início de 2021.
Ela explicou que os trabalhos dos corredores logísticos são os passos anteriores a uma outra etapa na estruturação do planejamento de transportes: a elaboração dos planos setoriais para cada modal.
Nos planos setoriais serão identificados os pontos de gargalo em cada modal e as necessidades de investimentos nos próximos anos para reduzir os gargalos e equilibrar a matriz de transportes do país, hoje muito dependente do setor rodoviário, por onde trafegam cerca de 2/3 das cargas.
Depois da elaboração dos planos setoriais, o governo vai selecionar os investimentos que serão feitos por concessões, descritos num plano geral de outorgas, e os que serão feitos com recursos públicos, que passarão a fazer parte do PPA (Plano Plurianual), que é o documento base do orçamento da União.
De acordo com a Portaria 123/2020, esse passará a ser o ciclo de planejamento para os investimentos em transportes no país, com renovações dos estudos entre dois e quatro anos.
MME e TCU
Ainda segundo a secretária, o trabalho foi feito em parceria com o Ministério de Minas e Energia, que forneceu os dados para o levantamento, e está sendo compartilhado com o TCU (Tribunal de Contas da União), que está fazendo uma auditoria sobre a logística de combustíveis do país. O trabalho completo está disponível neste link.