iNFRADebate: Panorama atual do saneamento básico no Brasil – oportunidades para a iniciativa privada

Luiz Guilarducci* e Marcio Alvarenga**

O saneamento é um dos setores com maior capacidade de gerar benefícios diretos e indiretos para a sociedade como um todo. Os impactos são sentidos na saúde, na educação, na geração de emprego e renda. É um dos setores que mais pode contribuir com a retomada do crescimento do país, por meio dos esforços para a universalização dos serviços.

A abertura do saneamento à iniciativa privada, por meio do Novo Marco do Saneamento aprovado em 2020, representou um avanço significativo para alcançar as metas de universalização de água e esgoto até 2033. A entrada de investidores privados é promissora, pois aumenta a capacidade de investimento. Em contrapartida, o setor privado se mostra interessado em função da natureza no negócio: fluxo de caixa estável, inelástico e resiliente a longo prazo.

Nos últimos anos tivemos um histórico de importantes negociações. Entre elas região a metropolitana de Maceió em 2020, a concessão da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) em 2021 e da Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento) no Rio Grande do Sul em 2022, além dos leilões de PPP (Parceria Público-Privada) da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) – ao todo serão três licitações, sendo a primeira delas já realizada em 14 de julho de 2023.

Seguindo essa tendencia, a Sabesp informou ao mercado, em fato relevante, a contratação de serviços técnicos especializados para a realização de estudos sobre a desestatização da empresa (atualmente o governo de São Paulo detém 50,3%). Caso o estudo aponte para significativos benefícios, a privatização deverá ser estruturada para 2024.

Sendo a maior empresa de saneamento do Brasil, a Sabesp atende mais de 27 milhões de pessoas – cerca de 70% da população urbana estadual – e está presente em 375 dos 645 municípios paulistas. Em 2022, a empresa detinha 10,1 milhões ligações de água, com percentual de cobertura de água e esgoto próximo da universalização.

Medidas como a otimização da mão de obra, negociação com fornecedores de insumos, redução das perdas físicas de água e eficiência energética da operação podem levar a uma redução significativa do Opex (despesas operacionais) da companhia. A implementação de tecnologias voltadas à eficiência na cobrança e aferição do volume faturado devem incrementar a receita operacional da empresa. Esses fatores tendem a elevar a margem Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Sabesp, que atualmente é de 41,1%, para valor superior a 50% no longo prazo.

Outro aspecto relevante é a estrutura de capital da empresa. Com a privatização, a Sabesp pode buscar um maior nível de alavancagem financeira, permitindo a participação em novos editais e oportunidades de investimento no setor. Atualmente, a dívida líquida/Ebitda da Sabesp é de 2,2, enquanto os pares privados do setor tipicamente operam com indicadores superiores a 3.

Ainda que exista alguma incerteza no setor com novos decretos e possíveis alterações no marco legal do saneamento, uma possível desestatização da Sabesp encontrará forte apelo. O vencedor da privatização se consolidará como o maior player do mercado adquirindo uma companhia em estado maduro de governança e marca, além de estar bem-posicionada no mercado. O Capex (investimentos em bens de capital) em estágio avançado, os efeitos do potencial de redução do Opex, o incremento de receita e a otimização da estrutura de capital da empresa, combinados com um maior apetite à risco dos investidores, podem fazer dessa uma das maiores privatizações da história do Brasil.

*Luiz Guilarducci é CEO da Crescento Consultoria Financeira, CFA (Chartered Financial Analyst) e engenheiro civil especialista em modelagem financeira e estudos de mercado para negócios privados em infraestrutura (greenfield e brownfield).
*Marcio Alvarenga é engenheiro civil e FP&A (Planejamento e Análise Financeira) na Crescento Consultoria Financeira.
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