Marina abandona audiência em comissão após discussão com senadores

Gabriel Vasconcelos e Lais Carregosa, da Agência iNFRA

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou nesta terça-feira (27) audiência na CI (Comissão de Serviços de Infraestrutura) do Senado após discussão com parlamentares. O estopim foi a afirmação do senador Plínio Valério (PSDB-AM) de que a respeitava como mulher, mas não como ministra. Marina exigiu uma retratação de Valério, que se recusou. Na discussão, Marina lembrou o episódio em que o senador disse ter sentido vontade de enforcá-la.

O senador disse que “quando eu separei, quis dizer que não tenho nada contra a mulher, mas divirjo da ministra”. Marina então se retirou da sessão: “não fui convidada como mulher”.

Antes, Marina já havia se desentendido com o presidente da comissão, senador Marcos Rogério (PL-RO), que chegou a dizer para ela “se colocar em seu lugar”, e com o senador Omar Aziz (PSD-AM), que questionou enfaticamente políticas ambientais restritivas à economia no Norte do país.

O senador Marcos Rogério chegou a ironizar a discussão entre Marina e Aziz, apontando que o senador é da base do governo que deveria se reunir para debater internamente. Ao que Marina contestou: “Fique tranquilo, é um governo de frente ampla para evitar a ditadura com a qual o senhor não se importou”.

Marcos Rogério então sugeriu falta de educação da parte da ministra, e Marina apontou o dedo: “O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa e eu não sou”. Marcos Rogério então perguntou se Marina o acusava de sexismo, pediu respeito e disse para a ministra se colocar “em seu lugar”.

A ministra saiu da audiência após a fala do senador Plínio Valério. Ela foi se reunir com o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). Na saída, afirmou que pediria ao parlamentar que o PL (Projeto de Lei) 2.159/2021, que trata das novas regras de licenciamento ambiental, tramite “no devido tempo”.

“Eu estou saindo para ir para uma conversa com o presidente Hugo Motta, tem a chance de dar o devido tempo para que a gente faça o debate correto e que a sociedade brasileira, que tem na Câmara dos Deputados os seus representantes, possa ter o tempo necessário para dialogar com eles”, afirmou.

Unidades de conservação e licença da Petrobras

Mais cedo, Marina Silva negou aos senadores presentes na Comissão de Serviços de Infraestrutura que a criação de quatro novas unidades de conservação marinha ao longo da costa do Amapá possam atrapalhar a procura e a produção de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, assim como a instalação de dutos e portos na região. E, sobre o licenciamento para perfuração de um poço exploratório pela Petrobras, sugeriu que a falta de uma AAAS (Avaliação Ambiental de Área Sedimentar) retarda a liberação.

“Os esforços que estamos fazendo no Amapá (criação das unidades) não incidem sobre os blocos de petróleo”, disse Marina. Ela mostrou aos parlamentares que as unidades ficariam, respectivamente, a 137 km, 275 km, 335 km e 447 km do bloco que a Petrobras pleiteia perfurar, sem inviabilizar a atividade.

Ao senador Lucas Barreto (PSD-AP), Marina garantiu estar expresso, no processo que tramita em sua pasta, que infraestruturas na faixa litorânea não serão impedidas, mas terão de obter licenciamento ambiental. A ministra também reconheceu ao senador amapaense o recuo do governo estadual sobre a criação de duas das quatro unidades de conservação, que seriam de sua atribuição. As outras duas seriam federais. Ela destacou que o processo de instalação das reservas, vem de 2005 e não surgiu agora para inviabilizar atividades de óleo e gás na região.

Sobre a licença à Petrobras, Marina disse que o aval do Ibama não vem na mesma velocidade que o de outras áreas, como as bacias do Sudeste, porque a Foz do Amazonas e outras bacias da Margem Equatorial são pouco ou nada conhecidas. Nesse contexto, ela voltou a citar a necessidade da AAAS, que disse ter proposto ao ministro Alexandre Silveira ainda em 2023.

O Ibama chegou a pedir pela AAAS ao longo do processo, mas isso foi dispensado por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em junho daquele ano. Com duração de anos, o AAAS é instrumento anterior à colocação de áreas em leilão que é historicamente substituído por manifestação conjunta dos ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia, espécie de processo simplificado.

* Reportagem atualizada após publicação para inclusão de informações sobre unidades de conservação e licença da Petrobras.

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