Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA
A Petrobras não planeja reajustar o preço da gasolina e do diesel fabricados em suas refinarias nos próximos dias. Essa posição foi reforçada pela queda na cotação internacional do petróleo, nesta segunda-feira (23), disseram à Agência iNFRA fontes da companhia com conhecimento sobre a formação de preço dos derivados da estatal.
“Não há nenhuma análise fundamentalista no sentido de que estaríamos em um novo normal, de ‘US$ 70 e alto’ para o Brent. Nós tiramos da metodologia essa volatilidade, e agora é um momento de total volatilidade”, disse uma alta fonte da estatal. “O Brent caindo mais de 5% compensou a alta das últimas semanas –não totalmente, mas amorteceu bem”, observou a fonte, negando qualquer inclinação por uma alta nos combustíveis Petrobras.
Principal fator observado na formação de preço dos derivados, o preço do barril de petróleo do tipo Brent para setembro, negociado na ICE (Intercontinental Exchange), recuou 6,67% ontem (23), cotado a US$ 70,52 o barril. Em pouco mais de dez dias, anteriormente, esse preço chegou a saltar de US$ 68 para US$ 78. Agora, a expectativa é de que uma consolidação do cessar-fogo entre Israel e Irã, anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, arrefeça de vez a cotação da commodity.
Cálculos independentes de PPI (Preço de Paridade de Importação) apontam que, nas últimas semanas, a Petrobras tem vendido tanto gasolina quanto diesel abaixo da referência internacional. Nesta segunda-feira, segundo a Abicom (Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis), essa defasagem estava em 9% ou R$ 0,26 por litro, no caso da gasolina, e 19% ou R$ 0,61 por litro de diesel.
Esse percentual de defasagem para o diesel, segundo a associação, só teria sido registrado no fim de janeiro. Na ocasião, a Petrobras subiu o preço desse combustível em 5,6% – o que acabou compensado por três reduções, em pouco mais de um mês, a partir do fim de abril. O comportamento da companhia no fim de janeiro ligou o sinal de alerta para agentes do mercado e dentro do próprio governo nos últimos dias.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, chegou a dizer, em entrevista à rádio CBN, que, ante o horizonte de alta do petróleo, são “bem-vindas” medidas de mitigação de preço dos combustíveis por parte da Petrobras. Internamente, porém, a empresa ainda não veria como estrutural a subida de preços. A leitura ganha força com o possível fim das agressões.
Ressalvas
Historicamente, a Petrobras questiona o cálculo da Abicom, argumentando que entram em sua conta ganhos de escala não percebidos por importadoras menores, que integram a associação, e facilidades logísticas próprias (negócio verticalizado e peso mínimo do custo de frete).
Além disso, a Abicom e outras consultorias observam o PPI do Golfo do México (EUA) superior ao preço do diesel trazido de outras origens, como o russo, predominante no mercado brasileiro. Esse preço russo integra o que a estatal chama de “custo alternativo do cliente”, o preço praticado pela concorrência, que corresponde ao teto da banda observada na política de preços da estatal. Na prática, portanto, a defasagem real dos preços Petrobras seria menor que a divulgada pela Abicom.
Risco reduzido
Na Petrobras, movimentos desse tipo são definidos pela trinca de diretores, que inclui a presidente, Magda Chambriard, e os diretores financeiro, Fernando Melgarejo, e de Comercialização e Logística, Claudio Schlosser. Na semana passada, Magda já havia dito que não faria nada com os preços da estatal porque a escalada do petróleo tinha começado “só há cinco dias”. “Permanece válido o que a Magda disse”, afirmou um segundo interlocutor à Agência iNFRA.
Na mesma ocasião, Schlosser minimizou a possibilidade de fechamento do Estreito de Ormuz, fio d’água por onde passam cerca de 25% do petróleo consumido globalmente e controlado pelo Irã. Desde então, o conflito no Oriente Médio escalou, com o envolvimento direto dos Estados Unidos, que bombardearam instalações nucleares iranianas, e mais ataques de mísseis de Israel ao território iraniano. Em reação, o parlamento do Irã aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz, uma decisão que ainda precisaria ser ratificada por duas instâncias políticas. Além disso, o país respondeu com ataques a bases militares americanas no Catar e no Iraque.
No entanto, a leitura de Schlosser parece sobreviver ao recrudescimento da guerra, coincidindo com a do mercado, que ignorou a ameaça de fechamento do estreito, amplamente definida como “improvável” por especialistas ouvidos pela Agência iNFRA.
Antes do anúncio do cessar-fogo, o presidente do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), Roberto Ardenghy, foi categórico em rechaçar a possibilidade de bloqueio no estreito, uma vez que o próprio Irã e países como Kuwait e Arábia Saudita escoam sua produção pela passagem com destino aos Estados Unidos, à Europa e à Ásia.
“Cerca de 70% do petróleo e gás que vão para a China passam por ali. Você acha que o chinês vai deixar aquilo ali sair do controle? Fora outros países, como o próprio Estados Unidos, a Inglaterra, França e Índia”, diz Ardenghy. “O estreito é realmente muito sensível a qualquer bloqueio. Em alguns trechos, tem dois quilômetros de largura. Mas é supermonitorado. Pode acontecer uma ação militar pontual, mas algo que perdure é absolutamente improvável, porque levaria à intervenção direta das potências para garantir o fluxo”, continua.
Segundo Ardenghy, a extrema volatilidade de preços pode permanecer devido à tensão geopolítica na região, mas não deve repetir a escalada de preços verificada no início da guerra da Ucrânia. “Não existe uma tendência para esse preço e nada indica que ele seguirá subindo até mudar de patamar”, continua o presidente do IBP.
A consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) estima que uma volatilidade prolongada poderia levar o barril do Brent a um patamar entre US$ 90 e US$ 100, enquanto o fechamento parcial do Estreito de Ormuz levaria esse preço para algo entre US$ 110 e US$ 130, aproximando-o do choque da guerra da Ucrânia. Já um bloqueio completo faria o Brent “romper facilmente” o patamar dos US$ 150, diz o CBIE.
O analista de Inteligência de Mercado da consultoria de preços StoneX, Bruno Cordeiro, avalia que hoje o mercado não vê um Irã militarmente capaz de sustentar o fechamento do Estreito de Ormuz, além do que a medida afetaria o escoamento de seu próprio óleo à Ásia. Para Cordeiro, soma-se a isso a natureza da resposta do Irã, com ataques a bases americanas em países vizinhos, indicando que o país não vai mirar estruturas produtivas.
“Os investidores compreenderam que as respostas iranianas aos ataques americanos e israelenses não devem ocorrer sobre a infraestrutura produtiva e logística na região”, afirma o analista da StoneX.