Augusto Santos*
A aviação civil brasileira atravessa um momento decisivo, repleto de desafios e oportunidades que demandam reflexão e ação coordenada. Entre as discussões mais relevantes, destacam-se a necessidade de estabilidade regulatória, avanços em sustentabilidade e o papel da tecnologia na eficiência operacional do setor, temas que se interligam e são cruciais para garantir a competitividade e o crescimento sustentável da aviação no Brasil.
Nesse contexto, a recente Carta de Brasília, assinada por importantes associações do setor como Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Alta (Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo), ACI (Conselho Internacional de Aeroportos), ABR Aeroportos do Brasil, Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo) e Jurcaib (Junta dos Representantes das Companhias Aéreas Internacionais no Brasil), emerge como um marco relevante. O documento, fruto de uma colaboração ampla entre diferentes atores da aviação, apresenta propostas significativas para superar gargalos estruturais e impulsionar o setor.
A estabilidade regulatória é um dos alicerces destacados, sendo essencial para atrair investimentos e fomentar a concorrência. Um exemplo é a necessidade de um corpo diretivo técnico e especializado na ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), que possa garantir credibilidade e eficiência na regulamentação, criando condições propícias à digitalização e à inovação no setor.
Paralelamente, a modernização e a segurança de fronteiras estão se consolidando como prioridades globais. Diversos países têm adotado soluções tecnológicas de ponta para aumentar a proteção e a eficiência de suas fronteiras. O Brasil, ao seguir essa tendência, tem a oportunidade de implementar padrões internacionais mais avançados, garantindo não apenas maior segurança, mas também a integração à evolução global do setor de aviação.
Outro ponto crítico destacado é a elevada carga tributária, que representa um obstáculo ao crescimento. Um regime tributário mais favorável é fundamental para que o Brasil possa competir em nível global e democratizar o acesso ao transporte aéreo. Reduzir custos operacionais não apenas tornaria as tarifas mais acessíveis, mas também permitiria maior adesão a soluções tecnológicas inovadoras, como o uso de biometria para check-in e embarque, melhorando a experiência dos passageiros e otimizando os processos.
A sustentabilidade também ocupa um papel central nas discussões sobre o futuro da aviação. Com vastos recursos naturais e potencial de inovação, o Brasil tem condições de liderar iniciativas alinhadas às melhores práticas internacionais. A modernização da infraestrutura aeroportuária, a otimização de rotas e a adoção de tecnologias sustentáveis, como gestão automatizada de tráfego, são passos fundamentais para tornar o setor mais verde e eficiente.
Ademais, as tecnologias emergentes, como inteligência artificial e o uso de dados em tempo real, têm potencial transformador. Essas ferramentas possibilitam a conexão ágil e segura entre aeroportos, companhias aéreas e passageiros, eliminando gargalos estruturais e promovendo uma experiência mais fluida. Essa evolução, no entanto, exige colaboração estreita entre o setor público e privado, que se configura como uma chave para transformar desafios em oportunidades e acelerar a modernização do setor.
Diante desse cenário, a aviação civil brasileira encontra-se diante de uma oportunidade histórica. E isso é extremamente positivo e deve ser prioridade para todos os stakeholders estratégicos da indústria: governo, associações do setor, aeroportos, companhias aéreas, além de empresas públicas e privadas. Ao focar em estabilidade, sustentabilidade e eficiência, o setor pode se consolidar como um exemplo de crescimento econômico, inclusão e inovação, posicionando o Brasil como referência no cenário global.
*Augusto Santos é vice-presidente para América Latina e Caribe da SITA (Sociedade Internacional de Telecomunicações Aeronáuticas).
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