Bento vê tendência de queda nas tarifas: “O consumidor não vai receber o impacto”


Leila Coimbra e Nestor Rabello, da Agência iNFRA

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse não enxergar uma alta nas tarifas de energia no futuro e vê com “serenidade” o atual momento do setor elétrico – que lida com impactos da alta do dólar e uma crise hídrica sem precedentes, por exemplo. “A tendência é que nossa energia fique mais barata no futuro”, afirmou.

Em entrevista à Agência iNFRA, Bento apontou que medidas como o fim dos subsídios às renováveis, conforme determinação da Medida Provisória 998 (Lei 14.120/2021), e a geração cada vez mais barata de energia de fontes como eólica e solar, que aumentam a cada dia a sua participação na matriz, contribuem para essa tendência.

Ações de redução tarifária tomadas neste ano, que somam mais de R$ 18 bilhões, tampouco devem surpreender o consumidor lá na frente, garante.

“Tudo isso é um somatório de coisas que nós entendemos que, mais os diferimentos e as ações que foram implementadas, o consumidor não vai receber o impacto. Não vai ser igual ao que foi a Medida Provisória 579 [de 2012]”, disse o ministro, que atribuiu parte da difícil situação nos reservatórios à medida implementada ainda no governo Dilma Rousseff. “As coisas estão sendo feitas com bastante critério”, completou.

O ministro deu a entrevista em seguida à decisão do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) de retirar os limites para o acionamento de termelétricas e importação de energia para garantir o abastecimento do país em consequência da atual grave crise hídrica. 

Segundo ele, o governo quer entrar no período chuvoso sem ter que “rezar para que chova”. Para o futuro, disse: “As térmicas agora, neste momento em que estamos vivendo, vão se tornar cada vez mais inflexíveis”.

Na conversa, Bento também falou sobre a atuação do governo para aprovar medidas no Congresso Nacional em meio à pandemia da Covid-19 e a discussão sobre as ações para conter variações extremas no preço dos combustíveis. Ele deu ainda detalhes sobre a mudança de comando das duas principais estatais subordinadas à sua pasta: a escolha de Rodrigo Limp para comandar a Eletrobras e a do general Joaquim Silva e Luna na Petrobras. Leia seguir os principais trechos da entrevista:

Agência iNFRA: O CMSE tem alertado sobre a grave questão dos reservatórios das hidrelétricas. Como vê a questão do abastecimento?
Beto Albuquerque:
 A gente trabalha para que o país permaneça com segurança energética e possa ter a energia necessária para suas atividades socioeconômicas. Isso foi a nossa preocupação ano passado. Tão logo a pandemia chegou, várias medidas foram tomadas: a MP (Medida Provisória) 950, a MP 998, e resolvemos a questão do GSF.

Por outro lado, em outubro do ano passado, começamos a verificar que estávamos vivendo a maior crise hidrológica que o país já passou. A maior crise hidrológica dos últimos 91 anos. E desde outubro do ano passado, observamos que o regime de chuvas piorou, e os nossos reservatórios foram deplecionados ao longo dos últimos oito anos.

Por conta, principalmente, da MP 579 [editada em 2012], que levou, por exemplo, Sobradinho a seu volume morto, de 2%, Isso não se recupera da noite para o dia.

E quais medidas estão sendo tomadas para garantir o abastecimento?
Desde outubro do ano passado, se você pegar as resoluções do CMSE e as notas que publicamos, nós começamos a despachar as nossas usinas termelétricas e também importar a energia disponível da Argentina e Uruguai. Somado a isso, também tivemos e ainda estamos tendo a menor afluência desde que Itaipu foi construída. Então, é um somatório de coisas que levam a medidas, como a que você leu na nota da reunião do CMSE.

Tem gás suficiente para garantir a geração térmica?
Trabalhamos para que se tenha gás suficiente para abastecer nossas unidades, em um monitoramento permanente. Trabalhamos de forma coordenada com todos os órgãos vinculados, ou não, e com o agente dominante do setor de gás natural, que ainda é a Petrobras.

Estamos trabalhando também com o fornecimento que vem da Bolívia e o GNL, que é importado. Em Sergipe e no Porto de Açu são GNL, que são plantas que estão entrando em operação [de GNL], e serão importantes para se ter combustível suficiente para que a gente passe por esse período.

Então, na visão do MME, a geração disponível é suficientes para manter o abastecimento? 
O monitoramento é permanente e as medidas serão adotadas, como já estão sendo adotadas, para que a gente tenha mais conforto. Para que a gente possa chegar em novembro com os nossos reservatórios em condições de entrar no período chuvoso, sem nós estarmos “rezando” para que chova. 

Esse acompanhamento é feito semanalmente e será feito ao longo do ano, como ocorreu em todo ano passado. Mas no ano passado, em setembro, nós estávamos numa posição, dentro das médias registradas, eu diria até que numa posição confortável. Não fossem os problemas que tivemos no passado recente, nossos reservatórios estariam em melhores condições. 

E quando entrou outubro, não veio [a chuva], não veio… e logo a bandeira teve que voltar vermelha. E foi uma coisa assim… tomamos as ações o mais rápido possível, para não ficar esperando… Se depois chover, ótimo, aí você vai retirando, mas você não pode voltar ao passado.

Em meio a essa situação, temos uma alta nas tarifas. O governo fez um pacote para atenuar, mas isso não esgota as possibilidades de novas medidas no futuro?
Não. Eu vejo com bastante serenidade. Ano passado talvez tenha sido o ano mais desafiador. Primeiro, tínhamos o grande desafio de manter a liquidez do setor. E isso conseguimos, mas sabemos que temos que pagar essa conta. Então, essa já era uma preocupação. 

Na própria tramitação da MP 950, já começamos a fazer um prolongamento do pagamento dessa dívida – que é do consumidor no final das contas – ao longo do tempo, para que pudéssemos implementar outras soluções. Então, veio a Medida Provisória 998, em que utilizamos alguns recursos que estavam disponíveis, eliminamos alguns subsídios, o que vai contribuir em muito para que as tarifas não aumentem ao longo do tempo.

Também trabalhamos junto com a ANEEL [Agência Nacional de Energia Elétrica] para que os contratos das distribuidoras – há contratos em IPCA e IGP-M – não impactassem as tarifas. Em 2021, a primeira coisa foi o IGP-M, que veio 30% [de alta] – não é só questão da tarifa elétrica, o gás natural foi alcançado por isso no transporte. Esse foi outro desafio.

Nós temos a tarifa de Itaipu, por exemplo, que por decreto já pode fazer parte dessa suavização de impactos tarifários. E daqui até 2023, você já não vai pagar mais tanto, porque já está fazendo o pagamento menor da amortização e nós vamos utilizar esse recurso também, que não é pouca coisa, em benefício do consumidor [do excedente de Itaipu]. Então, as medidas estão aí.

O fato de haver diferimentos, como a indenização das transmissoras, a Parcela B das distribuidoras, mais a Conta-Covid, não cria uma situação em que podemos ter uma nova alta lá na frente?
A tendência é que nossa energia fique mais barata no futuro, até porque os subsídios estão acabando. Nossa energia também está barateando. 

Veja quanto era o custo da solar, quanto era o custo da eólica. Isso tudo foi caindo. A tendência do próprio gás natural é cair. Tudo isso é um somatório de coisas que nós entendemos que, se somando a esses diferimentos e às ações que foram implementadas, o consumidor não vai receber o impacto. Não vai ser igual ao que foi a Medida Provisória 579, que, em 2015 levou a um pico de 50%, não vai ser isso.

Então, não terá esse paralelo?
Não. Porque as coisas estão sendo feitas com bastante critério, e também com bastante transparência. Tudo é discutido. Discutimos com o setor, nada foi imposto, até porque não dá para ser imposto. E o jogo tem que procurar ser de ganha-ganha, não pode ser um perdendo e outro ganhando. Nem perde-perde. É isso que a gente procura fazer. 

Por isso eu fico bastante sereno quando vejo essas coisas, porque em nenhum momento me senti surpreendido. Até porque nós procuramos nos antecipar, nós trabalhamos assim. O monitoramento não se resume a monitorar o passado, ele é importante para você planejar o futuro. É dessa forma que a gente trabalha, e trabalhamos juntos.

Eu falei no encerramento do CMSE que, apesar desses desafios, eu me senti seguro no sentido de que íamos superar isso. Porque estávamos todos ali com a mesma visão, sabendo que temos responsabilidades importantes e que temos que cada vez melhorar mais nossa governança. E estamos fazendo isso, e sempre fizemos. Mesmo com a pandemia, nós conseguimos avançar. 

Como avalia esse contexto, levando em conta a relação que o governo tem tido com o Congresso?
Eu falo assim… não é para dizer “poxa, nós conseguimos”. Quando eu falo nós, é tudo isso que conseguimos criar no setor, todos aqui, com diálogo. No primeiro dia da instalação da nova Mesa do Senado Federal, nós aprovamos  a MP 998 – e só tinha tinha dois dias para isso antes de ela perder a validade… Mas foi aprovada na primeira sessão, e isso ninguém tem notícia de quando ocorreu a última vez no Congresso.

Eu sai daqui umas 14h30, que a sessão ia começar por volta das 15 horas, e fui para lá. Sentei lá na cadeira, fiquei conversando com os senadores e fiquei lá até 22h. Como você consegue isso? É o Bento? Não é o Bento, é o conjunto da obra. Nós estabelecemos um diálogo, com a questão do GSF, a questão do PLS 232 – que agora é o PL 414.

Até nesse dia da aprovação da MP 998, eu estava trabalhando também no PLS 232. Você sabe que ele foi aprovado em fase terminativa, e aí houve um requerimento de alguns parlamentares para que ele fosse ao plenário. Eu conversei com o líder do PT, o senador Jean Paul Prates, expliquei a ele da importância… Ele concordou, retirou o requerimento, colheu as assinaturas de quem tinha assinado, e o PLS foi para a Câmara.

A MP 998 foi considerada uma minirreforma do setor. Houve algum momento em que o senhor temeu que ela poderia não ser aprovada?
Foi uma outra grande conquista que tivemos, fruto do trabalho que foi desenvolvido nesses dois últimos anos. Estava lá a questão da modernização, parada lá na Câmara e no Senado, há alguns anos. Desde a Consulta Pública 33. E aí começamos a trabalhar com o senador Marcos Rogério, presidente da CI [Comissão de Infraestrutura]. E trabalhamos ali passo a passo. A mesma coisa com a Lei do Gás.

Então, na MP 950 já estávamos trabalhando na MP 998. Aí vimos a importância de ver como serão os impactos no futuro. Você não pode só diferir. Eu tenho um empréstimo: “Amigo, hoje não tenho dinheiro para te pagar, mas pode botar aí para frente?”. Se você não trabalhar ou não ganhar mais dinheiro, você não vai conseguir pagar, se você não tiver condições de abater essa sua dívida, que foi o que incorporamos na MP 998… Nós vimos que se nós tivéssemos um mecanismo aqui, se eliminássemos os subsídios, poderíamos. 

Se você manda só a medida provisória, com a melhor das intenções, ela não vai ser aprovada. E o que nós fizemos? Aquilo que temos feito há dois anos e pouco. Fomos ao Congresso, conversar com as pessoas que já eram nossas interlocutoras, com quem já tínhamos diálogo. Mostramos a eles, de forma transparente… até com o relator, o senador Marcos Rogério. Ele veio aqui, sentamos, mostramos o passo a passo… e ele disse: “Concordo”.

Fomos na Câmara dos Deputados também, pegamos os deputados que estavam nisso, todos concordaram. E, então, encaminhamos a MP 998. Da mesma forma, fizemos com a Medida Provisória da Eletrobras. Mandei simplesmente a MP da Eletrobras? Não, ela foi aperfeiçoada.

Em relação à MP da Eletrobras, houve uma certa negociação para ter um certo agrado aos parlamentares?
Não foi um agrado. Eu acho que foram contribuições que o próprio Congresso trouxe pra gente. Quando você fala em capitalização, você não pode ficar pensando só na outorga. Você não pode ficar pensando só em fiscal. Porque quando você fala isso em relação à Eletrobras, você quer que a empresa mantenha sua participação no mercado, e seja mais ativa no mercado, porque é bom para todo mundo. 

É lógico que você tem uma questão fiscal. Aí estou falando a nível de estado brasileiro, que tem que ser resolvida. Mas você não pode resolver isso por meio das suas empresas estatais. É como se você tivesse vendendo um patrimônio, que você quer mantê-lo, mas você não tem como manter etc. E fala: “Eu vou vender isso para pagar dívida”. 

Não, não é isso. A Eletrobras é muito além disso. Ela contribui. Então, quando você muda o seu pensamento do fiscal para o que isso significa, por exemplo, para o setor elétrico brasileiro, aí você consegue aperfeiçoar a medida. E foi dessa forma que foi feito. E está sendo ainda, no meu entender, aperfeiçoada lá no Congresso.

A escolha de Rodrigo Limp para presidir Eletrobras foi com o intuito de negociação para a aprovação da MP no Congresso? A indicação teve essa visão?
Foi. Primeiro, eu convidei o Limp para vir ao ministério [como secretário]. Eu o conheci quando ele estava na ANEEL, comecei a conviver com ele quando o Ricardo Cyrino saiu. Eu, na minha avaliação, não tive dúvida e convidei o Limp.

Ele junta uma porção de coisas: consultor legislativo da Câmara dos Deputados, diretor da ANEEL, já foi inclusive servidor da agência antes de ser consultor. É uma pessoa com quem tenho me relacionado, tenho acompanhado… é uma pessoa que vai preencher uma necessidade do ministério de relacionamento com agência reguladora e com o Congresso Nacional, que nós precisamos no momento. Não me arrependo de ter escolhido, muito pelo contrário.

Como foi o processo de saída do Wilson Ferreira Jr.?
O Wilson Ferreira Jr., sentado aí [apontou para o sofá]… Ele me pediu uma audiência, disse que queria falar comigo em caráter pessoal. Aí eu, com meus cabelos brancos, e com os poucos cabelos que me restam… Aí eu virei para o Bueno [chefe de gabinete] e disse: “Ele vai pedir demissão”. “Tomara que eu esteja errado, pois gosto do Wilson, ele está fazendo um trabalho maravilhoso na Eletrobras, mas eu acho que ele está cansado, porque cansa. Eu respeito, porque cansa. Imagino, ainda mais pelo trabalho que fez na Eletrobras.”

Ele veio aqui numa sexta-feira. E quando começou a falar, eu virei, sem ainda entrar no assunto, e disse assim: “Wilson, você veio aqui para me dizer que você vai”… É a experiência. Ele estava emocionado, eu também me emocionei. Mas eu entendi, e falei para ele: “Wilson, eu entendo que você cumpriu sua missão. Se você me perguntar se eu gostaria que você saísse, a resposta é não. Se você perguntasse quem que vai te substituir, eu vou perguntar para você se você tem um clone”.

Fui evidentemente informar o presidente Bolsonaro que o presidente da Eletrobras iria sair. Pedi a ele [Wilson] um tempo para que eu pudesse conversar com o presidente, trocar ideias com o presidente, como sempre faço. E o presidente reagiu com tranquilidade e disse assim: “Bento, traga um nome”. E não me pressionou para trazer um nome o mais rápido possível, deixou comigo.

Como se sentiu diante dessa situação?
Eu fiquei, confesso… Não poderia tomar uma decisão errada, até por conta disso tudo que a gente construiu na Medida Provisória da Eletrobras. Conversei muito, e um dia cheguei aqui e disse: “Chama o Limp. Vou convidar ele para ser presidente da Eletrobras”. Aí ele veio e aceitou. E eu disse: “Agora tenho que ver se o presidente aceita”.

No mesmo dia, pedi audiência ao presidente e disse que tinha encontrado um nome. Ele conhece o Limp, mas não estava relacionando. Quando o Limp entrou, o presidente disse: “Ah, é você!”. Ele já o conhecia. Às vezes, em alguns despachos que eu vou com o presidente, levo um ou outro secretário, acho que é importante, também até para eles conhecerem o presidente, a dinâmica da tomada de decisão.

E foi assim a escolha do Limp. Cortando na carne aqui no ministério. Mas acho que era o momento de termos uma pessoa como Limp à frente da Eletrobras. Detalhe: foi aprovado por unanimidade no Conselho de Administração da Eletrobras. Até o representante dos empregados votou nele. Isso mostra também que a receptividade foi boa.

O Christiano Vieira que irá substituí-lo aqui no ministério?
Sim. Também é uma escolha fruto das observações que eu fiz ao longo deste ano. Achei que era a pessoa agora que poderia preencher esse… Eu estou no meu terceiro secretário de Energia Elétrica, no meu terceiro secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético, no meu terceiro secretário de Petróleo, Gás e Biocombustíveis. Só um secretário que está desde o início, que é o Alexandre Vidigal [Mineração]. Isso em dois anos e cinco meses.

E como o ministério está fazendo para suprir esse vácuo do Limp, no lado político, de articulação?
Olha, isso a Marisete faz bem, eu faço também. E o Christiano vai fazer também. Porque é a forma de trabalhar. A gente trabalha de forma bastante transparente. Eu tive aqui, por exemplo, em petróleo e gás: tive aqui Márcio Felix, depois a Renata, e agora José Mauro. Ele nunca tinha trabalhado aqui em Brasília. Hoje, ele tem uma interlocução fluida, os parlamentares ligam para ele. Porque quando eu vou no Congresso, no presidente, por exemplo, eu levo comigo.

Então, isso você aprende. Porque aqui ninguém está defendendo um interesse de um partido A, B ou C. Ou um grupo A, B ou C. Aí acho que fica mais fácil.

No dia que saiu o Castello Branco da Petrobras, houve um rumor de que o senhor poderia ser o novo presidente da estatal. O senhor chegou a ser sondado para esse cargo ou foi um boato?
É boato.

Desde o começo, foi o general Silva e Luna mesmo? Como se deu essa escolha?
Sim. Foi escolha do presidente, não foi uma sugestão minha. Eu sugeri o Silva e Luna para ser o diretor-geral de Itaipu e o presidente aceitou, no início de 2019. E ele teve um trabalho muito grande e exitoso, à frente de Itaipu. E o presidente, que nunca tinha convivido com o Silva e Luna, gostou. Ele como tantos outros. Na hora em que ficou decidido que nós não iríamos reconduzir o Castello Branco, o presidente perguntou para mim: “O que você acha do Silva e Luna?”.

Eu indiquei o Silva e Luna [para Itaipu]. Mas não é pelo o fato de que eu indiquei o Silva e Luna… Às vezes para uma determinada função, para uma determinada empresa, ou num determinado momento, você precisa de uma pessoa com um determinado perfil.

Mas isso não significa porque eu indiquei o Silva e Luna, eu poderia indicar ele para a Petrobras. Mas o presidente me perguntou, e eu disse: “Presidente, eu acho que o Silva e Luna preenche plenamente a Petrobras nesse momento da Petrobras”. E isso foi uma decisão do presidente. E imediatamente tomamos a decisão de anunciar tudo junto, numa sexta-feira, se não me engano, depois do Carnaval. Eu estava de férias.

Sobre combustíveis, foi anunciado que existem medidas governamentais em estudo. O que está em estudo? Há o aval do Ministério da Economia para um mecanismo de proteção à volatilidade de preços?
Isso não tem uma forma nem tem um modelo. E você não pode também se dissociar da conjuntura, e você vê que esse problema é complexo. E eu estou falando isso há algum tempo, desde que houve aquelas crises: a primeira em setembro de 2019, e a segunda no final do mesmo ano, quando mataram o chefe da guarda revolucionária do Irã, no Iraque. 

Desde aquela época, o presidente esteve aqui no ministério, quando o petróleo deu o primeiro pico, e a gente sem saber como poderia compensar isso. E este que é o fato: o país não tem mecanismos para amortecer variações bruscas do preço do petróleo, nem cambial. Então, começamos a trabalhar, a estudar desde aquela época, e veio a pandemia.

Na pandemia, num primeiro momento, o preço do petróleo saiu de US$ 70,00 para US$ 18,00, ficou negativo num dia. E agora já está em US$ 70,00. E houve também uma variação grande cambial. Quando assumimos o governo, um dólar era R$ 3,74. E ele chegou a R$ 5,70. Olha só, quase 50%. E isso tem um impacto grande.

Poderia mexer em tributos?
Nós não temos impostos, tributos, que você possa… Tem a Cide, que está praticamente zerada. No diesel, está zerada. Ainda tem R$ 0,10 na gasolina. Ou seja, o único mecanismo que poderia ser utilizado não existe. Temos um fundo? Não temos um fundo. Temos estoques reguladores? Não, não temos. 

Então, estamos tentando construir no âmbito do governo medidas que não são para o momento atual. O momento atual é uma decisão, como foi tomada, de zerar o PIS/Cofins por dois meses do diesel, em plena safra. E com a importância que os combustíveis têm na nossa atividade socioeconômica.

Decisões pontuais podem ser tomadas, e serão tomadas sempre que for necessário. Agora, estamos trabalhando com medidas, que, independente do governo, o país possa ter para não passar por situações em que a economia possa ser afetada diretamente. É isso que nós estamos trabalhando.

Haverá novo desconto no PIS/Cofins?
Por enquanto, não. Estamos trabalhando. Quem coordena esse trabalho é a Casa Civil. Isso não é questão do Ministério de Minas e Energia, é do governo. Envolve Economia, outras ministérios, como a Secretaria de Governo. Por quê? Porque tem medidas que você depende do Congresso. Tem que ver as iniciativas que estão no Congresso também, para a gente botar tudo ali e ver o que é melhor para o país.

Essa questão do ICMS, por exemplo, é uma bola de neve. Porque a tendência é sempre subir. E aos estados, você está aumentando a arrecadação. Mas isso é uma bolha, porque o consumo também cai. E cai a arrecadação. Num primeiro momento, você começa a arrecadar mais. E no segundo momento, temos visto isso, o consumo vai caindo. E o país é extremamente dependente, por suas características de infraestrutura, do transporte automotivo.

Há algo a ser anunciado em breve sobre combustíveis?
Não. Mas os estudos, eu diria, estão avançados. Acho que até na próxima semana tem uma reunião, e as medidas vão sendo anunciadas.

Depois de todo o debate sobre as térmicas inflexíveis, como enxerga a questão?
Não somos contra as térmicas inflexíveis. Tanto que a própria MP 998 já prevê, e vamos realizar no fim deste ano, um leilão de reserva de capacidade. E nos nossos leilões agora, tiramos a flexibilidade das térmicas, poderão concorrer com térmicas inflexíveis.

Então, não somos contra. E você vê que as térmicas agora, nesse momento em que estamos vivendo, vão se tornar cada vez mais inflexíveis. Vamos precisar disso para recompor reservatórios. Infelizmente, nós não continuamos com nosso programa nuclear. Se hoje tivéssemos, que era o planejamento inicial, seis usinas nucleares, não estaríamos passando por esse momento. Essa é uma outra crítica que deve ser feita em relação à nossa matriz.

Há 20 anos, 90% da nossa matriz era hidráulica. Hoje, é 60%. E a intermitente subiu  e está subindo exponencialmente – eólica, solar, principalmente – e como você resolve essa questão da intermitência, tendo adotado medidas públicas equivocadas, para não dizer outra coisa, no passado, que não é tão longínquo assim, oito anos atrás, que leva o país a essa situação.

Ministro, gostaria de dar uma mensagem final?
No setor de energia, como um todo, estamos bastante otimistas. A questão do petróleo e gás, nós vamos realizar o leilão dos dois campos restantes da cessão onerosa. Como já falei, não é um processo simples aprovar todos esses parâmetros, seja na ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis], na PPSA, na Petrobras, seja no CNPE [Conselho Nacional de Política Energética]. 

Eu acho que nós trabalhamos o ano passado inteiro nisso, para reduzir a praticamente zero a incerteza para os investidores em relação a esse leilão, pois no primeiro tinha incertezas. Imagina a importância de termos realizado aquele leilão… imagina se não tivéssemos realizado o leilão da cessão onerosa, que também estava há seis anos ou mais parado? Olha o custo de oportunidade disso. Imagina se não tivéssemos realizado em 2019, e tivéssemos deixado para este ano? 

Lá o preço do barril estava em US$ 70,00 com tendência para cima. Olha só como é importante não perder as oportunidades.

Mas o petróleo agora não está com tendência de alta?
Mas isso é uma coisa de retomada pontual da economia mundial. O que não falta no mundo é petróleo. E o que não falta também é gente querendo vender mais petróleo, que é o caso do Brasil. Ano passado batemos recordes de exportação, e provavelmente neste ano vamos bater recorde de exportação também. E isso leva à competição e à queda do preço. E até dentro da transição energética, não vai ser em um ou dois anos, mas daqui a 10 anos, daqui a 15 anos, não tem como sustentar o preço do barril de petróleo a US$ 70,00. 

Isso aí [alta], é o da retomada. Porque houve redução de produção, e você não aumenta a produção apertando um botão. Você tem que recompor todo seu sistema, que é complexo. Deixamos de realizar leilão na área do pré-sal, acho que de 2008 a 2014… Sabe qual a média de preço do petróleo? US$ 100,00. Olha o quanto o país perdeu de recursos!

E essa retomada está sendo interessante. Vamos realizar outros dois leilões, um sendo o terceiro da oferta permanente e entrando novas empresas. Nenhuma grande, só empresa pequena e média, olha que espetáculo. Ou seja, há espaço para todos. E é por isso que no setor de infraestrutura, nos últimos dois anos, R$ 190 bilhões foram investidos no setor de energia – setor elétrico e petróleo e gás – proveniente de 17 países, de todos os continentes exceto a África.

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